Principais conclusões
1. O Subjetivismo Moral Baseia-se num Erro: A Lacuna entre Fundamentos e Julgamento
É essa lacuna entre fundamento e julgamento moral que eu nego.
O erro central do subjetivismo. Teorias como o emotivismo e o prescritivismo, predominantes na filosofia moral moderna, afirmam que os julgamentos morais exigem sentimentos, atitudes ou intenções subjetivas do falante, além da descrição factual. Isso cria uma lacuna lógica: mesmo que todos os fundamentos factuais estejam presentes, alguém pode não fazer o julgamento moral por faltar o estado subjetivo necessário.
A exigência prática de Hume. Essas teorias tentam explicar a natureza orientadora da moral para a ação, ponto que David Hume enfatizou corretamente. Argumentam que os julgamentos morais motivam a ação porque expressam desejos ou compromissos, ligando a moralidade ao estado "conativo" do agente.
Rejeitando a lacuna. O erro está em supor que esse elemento subjetivo é necessário para o próprio julgamento moral. Julgamentos morais, defendo, são afirmações sobre fatos – fatos sobre o que há razão para fazer. A conexão com a ação não vem de um estado subjetivo, mas da própria natureza da racionalidade prática.
2. Introduzindo Normas Naturais: A Bondade em Plantas e Animais
As teorias expressivistas têm a consequência notável, embora raramente mencionada, de separar a avaliação da ação humana não apenas da avaliação da visão, audição e saúde corporal humanas, mas também de toda avaliação das características e operações de plantas e animais.
Um tipo diferente de avaliação. Ao contrário de avaliar coisas com base em interesses humanos (bondade secundária), os seres vivos possuem uma bondade "autônoma", "intrínseca" ou "natural". Isso se aplica a plantas, animais e suas partes ou operações, independentemente de sua utilidade ou beleza para nós.
Além das atitudes humanas. Não explicamos a bondade de raízes fortes ou presas afiadas dizendo que temos uma "atitude pró" em relação a elas. Essas avaliações são fatos objetivos sobre o ser vivo em si, baseados em sua natureza e modo de vida.
Uma estrutura conceitual compartilhada. Proponho que a avaliação da ação humana compartilha uma estrutura lógica básica com essas avaliações de seres vivos não humanos. O defeito moral é uma forma de defeito natural, não fundamentalmente diferente dos defeitos encontrados na vida sub-racional.
3. A Forma de Vida Determina a Bondade Natural: O Papel da Teleologia
Partimos do fato de que é a forma de vida particular de uma espécie de planta ou animal que determina como um indivíduo dessa planta ou animal deve ser...
Os categóricos aristotélicos. As descrições dos seres vivos frequentemente se baseiam em proposições sobre a espécie ou "forma de vida" (por exemplo, "Coelhos são herbívoros", "O pavão macho exibe sua cauda"). Essas não são afirmações estatísticas sobre cada indivíduo, mas descrevem o modo característico de vida da espécie.
Função e propósito. Esses "categóricos aristotélicos" estão ligados à teleologia – a função ou propósito de uma característica ou operação dentro do ciclo de vida da espécie. O que "desempenha um papel na vida" de um ser vivo está causal e teleologicamente relacionado ao seu desenvolvimento, auto-sustentação e reprodução.
Normas derivadas da forma de vida. Bondade e defeito naturais são determinados por essa forma de vida. Um cervo lento é defeituoso porque a rapidez é necessária para a defesa característica do cervo (fuga) e sua sobrevivência. Isso estabelece normas independentes dos desejos ou interesses humanos.
4. Transição para os Humanos: Avaliando Características pela Forma de Vida
A questão é, portanto, se as características dos humanos podem ser avaliadas em relação ao papel que desempenham na vida humana, segundo o esquema da normatividade natural que encontramos no caso de plantas e animais.
Aplicando o esquema. Pode a mesma estrutura de normatividade natural aplicar-se aos seres humanos? Sim, inicialmente para características físicas e mentais como visão, audição, memória e capacidade para a linguagem. Estas podem ser avaliadas como boas ou defeituosas com base em seu papel na vida humana.
Além da mera biologia. Embora enraizada em nossa natureza biológica, a vida humana é muito mais complexa do que a de plantas ou animais. O bem humano envolve linguagem, imaginação, cooperação social e atividades diversas, levando a uma gama muito maior de características e operações avaliáveis.
Necessidades humanas. Apesar da diversidade, podemos identificar necessidades humanas gerais considerando a privação. A falta de capacidade para linguagem, imaginação ou conexão social constitui um defeito porque são necessárias para o bem humano, assim como raízes fortes são necessárias para um carvalho.
5. Ação Humana e Vontade: Virtudes como Perfeições Naturais
E se perguntarmos se Geach estava certo ao dizer que os humanos precisam de virtudes assim como as abelhas precisam de ferrões (ver Capítulo 51), a resposta certamente é que ele estava.
Virtudes como excelências. Virtudes morais como justiça, caridade, coragem e temperança são excelências da vontade e da ação humanas. São disposições que permitem aos humanos agir bem, assim como a rapidez permite a um cervo escapar de predadores.
Necessárias para o bem humano. As virtudes são necessárias para que os humanos vivam bem, dada nossa natureza como animais sociais e racionais. Cooperação, confiança, laços familiares e códigos de conduta são elementos essenciais da vida humana, e virtudes como lealdade, justiça e bondade tornam isso possível.
Exemplo da promessa. Quebrar uma promessa é ruim porque a instituição da promessa é uma "necessidade aristotélica" para a vida humana – algo do qual depende grande parte do bem humano, dado nosso meio limitado de vincular a vontade uns dos outros. Essa avaliação deriva de fatos sobre a vida e capacidades humanas, não de atitudes subjetivas ou cálculos utilitaristas.
6. A Racionalidade Prática é um Aspecto da Bondade Humana
Quero dizer, de forma direta, que não existe critério para a racionalidade prática que não derive do da bondade da vontade.
Desafiando o padrão independente. Muitas vezes se supõe que a racionalidade prática é um padrão independente (como maximizar a satisfação do desejo ou o interesse próprio) ao qual a ação moral deve de algum modo conformar-se. Isso, argumento, é um erro.
Racionalidade como agir bem. A racionalidade prática é em si uma forma de bondade humana – especificamente, bondade da vontade no que diz respeito ao reconhecimento e seguimento da razão. Agir racionalmente é agir bem, e agir irracionalmente é agir mal.
Virtudes e razões. Possuir virtudes significa reconhecer certas considerações (como uma promessa ou a necessidade do próximo) como razões poderosas para agir e agir conforme elas. Esse reconhecimento e resposta é a racionalidade prática em ação.
7. Respondendo ao Cético: Por Que Agir Como uma Pessoa Boa?
Suponhamos que o padrão normativo que chamei de ‘normatividade natural’ governa nossas avaliações dos humanos enquanto humanos... O cético certamente perguntará: ‘Mas e se eu não me importar em ser um bom humano?’
O desafio do cético. Se a bondade moral é uma forma de bondade natural, por que um agente racional deveria se importar em ser um bom humano, especialmente se isso conflitar com seus desejos ou interesses?
A racionalidade é a resposta. A resposta não é que se deve importar em ser um bom humano como um objetivo externo. Antes, agir como um bom humano é agir racionalmente. A pergunta "Por que eu deveria fazer isso?" quando feita sobre uma ação virtuosa é, em última análise, uma pergunta sobre a própria racionalidade prática.
Razões fundamentadas em fatos. As razões para agir estão fundamentadas em fatos sobre a vida humana e os requisitos da racionalidade prática, não apenas nos desejos ou interesses subjetivos do agente. Reconhecer uma razão para agir dá a uma pessoa racional um objetivo, e esse reconhecimento baseia-se em fatos e conceitos objetivos.
8. O Bom Humano: Bondade da Vontade Racional
Falar de uma boa pessoa é falar de um indivíduo não em relação ao seu corpo, ou a faculdades como visão e memória, mas no que diz respeito à sua vontade racional.
Uma avaliação específica. A avaliação "um bom humano" ou "uma boa pessoa" é distinta da avaliação de outras características humanas. Diz respeito especificamente à vontade racional do indivíduo – suas ações voluntárias, propósitos e disposições.
Ação voluntária é fundamental. Como as avaliações "morais" de Mill, essa classe mais ampla de avaliações da vontade racional aplica-se apenas a ações voluntárias. Movimentos involuntários ou ações feitas sob coação ou ignorância desculpável não contam a favor ou contra a bondade da vontade.
Fontes da bondade/maldade. A bondade ou maldade na ação pode surgir de:
- A natureza do ato em si (por exemplo, salvar uma vida versus matar).
- O fim para o qual a ação é feita (por exemplo, salvar uma vida para extorsão).
- O julgamento do agente (agir contra a própria consciência é ruim, mesmo que a consciência esteja errada).
9. Felicidade e Bem Humano: Desafiando a Separação da Virtude
Mas agora quero argumentar que encontramos em nosso próprio pensamento uma forma de entender o bem humano e até a felicidade humana que não permite tal combinação.
Felicidade como bem humano. A ideia de que a felicidade é o bem da humanidade é central na filosofia moral, mas parece problemática se a felicidade pode ser alcançada pela maldade. Isso desafia a ligação entre virtude e bem humano.
Além do prazer e contentamento. A felicidade, no sentido relevante para o bem humano, não é mero prazer, contentamento ou humor alegre. Envolve uma dimensão de profundidade, ligada a bens humanos básicos como família, amizade, trabalho significativo e busca da verdade.
A maldade impede a verdadeira felicidade. Considerando exemplos como criminosos notórios ou resistentes corajosos, vemos uma resistência conceitual a atribuir profunda felicidade àqueles que carecem profundamente de humanidade ou agem maldosamente. Há um sentido em que uma vida verdadeiramente feliz não é possível para os maus, ou para aqueles que devem sacrificar a virtude, mesmo que experimentem prazer ou contentamento.
10. Imoralismo: O Desafio à Bondade Natural
Portanto, a vida do injusto era superior à do justo.
A alegação imoralista. Imoralistas como Trasímaco, Calicles e Nietzsche desafiam a moralidade convencional afirmando que a injustiça é melhor que a justiça, especialmente para os fortes que podem escapar impunes. Vêem a justiça como servindo aos fracos e impedindo o florescimento do indivíduo forte.
Analogia com a amizade. Assim como seria um equívoco ver a amizade apenas em termos de serviços recíprocos prestados a contragosto por recompensa, é um equívoco ver a justiça apenas em termos de restrições externas aceitas por medo ou benefícios sociais. A amizade, como a justiça, envolve disposições e atitudes internas.
A crítica de Nietzsche. Nietzsche atacou especificamente a "moral da piedade" cristã, vendo a compaixão como uma fraqueza nascida do ressentimento. Ele via a moralidade convencional como um freio aos humanos, impedindo criatividade e espontaneidade, e levando a uma felicidade superficial e conformista.
11. Reavaliando Valores: Avaliando Disposições dentro do Quadro Natural
Ele dizia que algo considerado bom não era realmente bom: ‘A piedade é considerada boa, mas não é realmente boa.’
Avaliando o desafio. O desafio de Nietzsche, especialmente sua crítica à piedade, pode ser compreendido dentro do quadro da normatividade natural. Ele questiona se uma disposição como a piedade realmente contribui para o bem humano ou é um defeito, como afirmou.
Uma questão factual. Trata-se de uma questão sobre fatos da vida humana: a compaixão, como funciona realmente nos humanos, contribui ou prejudica o bem humano? É sinal de força ou fraqueza? Leva ao florescimento ou à frustração?
A normatividade natural fornece os critérios. O quadro da bondade natural fornece os critérios para avaliar tais afirmações. Se os fatos psicológicos de Nietzsche sobre a piedade estivessem corretos (que ela está sempre enraizada no ressentimento e é prejudicial), então sua "reavaliação" da piedade como defeito seria justificada dentro desse quadro. Contudo, as evidências sugerem que a compaixão genuína existe e contribui para o bem humano.
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Bondade Natural investiga o naturalismo ético, defendendo que as avaliações morais se fundamentam em fatos naturais relacionados ao florescimento humano. Foot desafia as teorias não-cognitivistas e apoia a ética das virtudes, traçando paralelos entre a moralidade humana e a bondade natural das plantas e dos animais. Os críticos valorizam a perspectiva inovadora de Foot sobre a filosofia moral, elogiando seu diálogo com Nietzsche e seu estilo de escrita claro. Contudo, alguns consideram seus argumentos confusos ou circulares, além de criticarem sua dependência de valores morais convencionais. Apesar dessas críticas, muitos reconhecem o livro como uma contribuição importante para a ética contemporânea.